domingo, 8 de março de 2009



A Língua


A língua é sem margem para dúvida o órgão mais versátil do nosso corpo.
“…corpo carnudo alongado, móvel, situado dentro da boca e que é o órgão principal da articulação da palavra, da deglutição e da gustação…” e de muitas outras coisas que não constam em dicionários. Coisas nem por isso menos interessantes.
No entanto, cingindo-me ao tema/problema em análise, interessa abordar a língua enquanto órgão de articulação da palavra. E articular a palavra pressupõe que alguém ouça. Quando ouvimos, apreendemos os conteúdos segundo um encadeamento extremamente variável: quem nos diz o quê, quando e em que contexto.
Gostamos que o nosso melhor amigo nos convide para ir a uma festa. Apreciamos ouvir um elogio ao nosso trabalho. Sabe-nos bem partilhar memórias com os amigos dos “bons velhos tempos”. Diverte-nos aquela private joke que temos com o colega de trabalho. E sabe melhor ainda ouvir um “gosto de ti” vindo de alguém especial.
Contudo, a palavra, o interlocutor e a situação em si nem sempre são assim tão doces.
E foi assim no momento da reflexão inicial para este desenho e texto. Os ouvintes (na altura) e autores (agora) encontravam-se numa aula de Materiais e Processos Têxteis com uma professora tão pouco eloquente quanto antipática e desmotivante.
Sabem aquelas mulheres de meia-idade com peso a mais e prazer a menos? Pois é… a língua da pessoa em questão embrulhava-se em “brancos químicos”, desenrolava-se em “fervuras alcalinas” e atropelava-nos o pensamento com “desencolagens enzimáticas”. A experiência foi de tal modo traumatizante que desenho e texto foram invertidos para darem lugar a um “preto harmónico” durante o processo do “arrefecimento ácido” da nossa “proteica criatividade”….

E fica, em jeito de conclusão, o lugar mais comum em que todos já nos vimos e revimos:

Cuidado com a língua!


Mafalda Meireles